'Homem do sombreiro' viraliza após manifestação com Wagner Moura; conheça
Veko Araújo, o “homem do sombreiro” do Cortejo Afro, chamou a atenção na manifestação contra a PEC da Blindagem em Salvador
Por Bruna Castelo Branco.
Na manifestação contra a PEC da Blindagem e a Anistia realizada neste domingo (21) na Barra, em Salvador, uma pessoa que estava no trio elétrico puxado por Daniela Mercury e Wagner Moura, que está na cidade para promover o filme "O Agente Secreto", chamou a atenção nas redes sociais: Veko Araújo, o “sombreiro man”, ou “homem do sombreiro” do Cortejo Afro. Veja o vídeo:
E teve um motivo: para quem não é da Bahia ou não conhece a cultural local, ver um homem negro segurando um guarda-sol ao lado de artistas brancos gerou estranheza e, logo, internautas começaram a apontar racismo na cena, sem saber que o objeto faz parte do desfile de um dos maiores blocos afro da capital baiana.
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No X (antigo Twitter), uma postagem sobre o assunto alcançou mais de 930 mil usuários e 17 mil curtidas. "A Bahia continua a mesma. Só mudaram os senhores de engenho", diz o texto que acompanha um vídeo. "Um negro segurando o guarda-sol para o burguês não se queimar? Lamentável esse racismo estrutural estimulado abertamente pelos esquerdistas".
A Bahia continua a mesma. Só mudaram os senhores de engenho. pic.twitter.com/SZSVPQM9jf
— Sr. Macaco - Sociedade Ilustrada (@sigasociedade) September 21, 2025
Nas respostas, alguns internautas concordaram com a publicação. "Sombra e água fresca para mim... sol na cabeça para vocês... 'Somos iguais'", escreveu um. "O que essa pessoa estava fazendo com a sombrinha?", questionou outra. "Com certeza vão falar que ele tá representando um 'Exu' e segue o jogo", opinou uma pessoa.
Quem conhece a cultura baiana, ou pesquisou sobre o assunto, rebateu. "Ele faz parte do Cortejo Afro. Em todas as apresentações ele está segurando esse sombreiro, até a noite. Informe-se antes de espalhar fake news", explicou um usuário da rede social. "Gente. Vocês não conhecem o Cortejo Afro? Isso é somente um adereço usado nas performances do grupo", apontou outra. "Quando eu me sentir ignorante, vou lembrar desse Tweet", escreveu mais um.
Quem é o homem do sombreiro?
O artista Veko Araújo construiu uma trajetória singular no Cortejo Afro, após um episódio marcante no Carnaval de Salvador. Durante um desfile, há cerca de 20 anos, o performer tomou um sombreiro das mãos de uma alegoreira e realizou uma série de movimentos que chamaram a atenção do vocalista Açúcar Portella e do artista plástico Alberto Pitta, criador e diretor do bloco.
A performance, segundo os fundadores, transformou o acessório em símbolo da entidade. O próprio Veko reconhece a relevância de sua figura no grupo.
Nascido na Vila Brandão, comunidade entre o Corredor da Vitória e o Yatch Clube da Bahia, Veko teve acesso à arte ainda na infância, influenciado pelo tio autodidata que desenhava. Estudou por alguns semestres na Escola de Belas Artes da Universidade Federal da Bahia, mas abandonou o curso. Sua formação se consolidou de forma autodidata, passando por experiências no teatro popular e no rock.
No teatro, integrou grupos do bairro da Saúde e participou de diversas peças, sobretudo do teatro negro. Em 1995, atuou na ópera Lídia de Oxum, de Lindemberg Cardoso e Hildázio Tavares, dirigida por Paulo Dourado. Tornou-se membro da diretoria do Movimento do Teatro de Rua da Bahia.
A aproximação com o Cortejo Afro ocorreu em 1998, quando soube da fundação do bloco por Alberto Pitta. A agremiação surgiu no Ilê Axé Oyá, em Pirajá, sob orientação da ialorixá Anizia da Rocha Pitta, Mãe Santinha, e contou com artistas como Aloísio Menezes e Mariene de Castro. Desde então, o grupo se consolidou pela estética ligada às artes plásticas e pela força performática de seus desfiles.
A inserção definitiva de Veko no Cortejo veio anos depois, no episódio em que sua performance com o sombreiro foi incorporada ao espetáculo. Para o candomblé, o adereço é consagrado a Oxalá, e sua presença ganhou novo protagonismo com o artista.
Atualmente, Veko viaja o mundo com o bloco, reconhecido como multiartista — performer, poeta, cantor e ator. No entanto, foi no Carnaval que sua identidade se consolidou como o “sombreiro man” do Cortejo Afro.
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