'Lugar de cura': no Dia do Palhaço, artista baiano reflete sobre o poder do riso
Dia Universal do Palhaço é celebrado no dia 10 de dezembro; Salvador tem dia municipal especial para tradicional desfile dos palhaços no Rio Vermelho
Por Juana Castro.
“Uma forma de ver o mundo”. É assim que o soteropolitano Raphael Ruvenal, ou simplesmente Palhaço Radiola, de 38 anos, descreve a arte da palhaçaria. No ofício há dez anos, ele conversou com o Aratu On sobre a profissão que avalia também como “propósito de vida” e “um lugar de cura”.
“Sou palhaço contemporâneo, que não veio do circo e sim do teatro. A técnica de palhaçaria agrega muito ao trabalho do ator. É um lugar bem potente”, afirma, acrescentando que se encontrou na “comédia física, do corpo, da mímica e do gestual”.

Raphael segue essa linha, mas existem diferentes tipos de palhaço, sendo o mais tradicional o Cara Branca (Clown), visto como inteligente e elegante. Há também o Augusto, aquele desajeitado, ingênuo, “bobo”, que costuma utilizar o famoso nariz vermelho; o Contra-Augusto, tido como puxa-saco do Clown; e o palhaço Vagabundo (Tramp), que é solitário e marginalizado, como fez um dos maiores artistas de todos os tempos, Charles Chaplin (1889-1977), além de outras variações.
Independente do tipo, cabe destacar que a arte de fazer rir tem data especial no calendário. A cada 10 de dezembro é celebrado o Dia Universal do Palhaço.

Mas a figura - tantas vezes caricata - que fez o mundo conhecer Chaplin, Bozo (personagem) ou o brasileiro Abelardo Pinto (Palhaço Piolim), vem perdendo força com o passar dos anos. Para Raphael Ruvenal, o “desaparecimento” dos circos pode estar por trás disso.
“A palhaçaria é uma arte milenar, mas está escassa. Não tem mais circo…”, reflete. “Antigamente, ser palhaço era uma herança de pai para filho. Hoje tudo é muito efêmero”, completa o soteropolitano.
Ele observa também que, antigamente, era comum rir do outro, com brincadeiras ou piadas pejorativas, muitas vezes, o que não cabe mais, segundo o artista. "Hoje a gente busca dialogar e rir com o outro. Rir junto", complementa Raphael.
Realizador de trabalhos em hospitais, abrigos, aldeias e quilombos, ele faz uma reflexão: "Todos nós somos palhaços. A palhaçaria está em todo mundo, mas a gente cresce e perde essa ingenuidade, pureza, alegria… esse lugar que é tão mágico. Mas o palhaço é para todas as idades".

Dia do Palhaço em Salvador
Nesta quarta-feira (10), o Dia Universal do Palhaço foi celebrado com animação no bairro do Rio Vermelho, em Salvador. Houve um desfile especial com a participação das crianças das Escolas Municipais Hercília Moreira e Osvaldo Cruz, acompanhadas pela Trupe de Palhaços e Palhaças do Grupo Percussivo PalhaFoliar, além dos artistas circenses Lua Barbosa e o grupo Alegria e Magia.
A partir do ano que vem, a capital baiana terá ainda mais motivo para comemorar, pois o tradicional desfile dos Palhaços do Rio Vermelho se tornou dia municipal. De autoria do vereador Sílvio Humberto (PSB), o projeto de lei foi aprovado pela Câmara de vereadores em setembro deste ano e, em novembro, sancionado pelo prefeito Bruno Reis (União Brasil).
Assim, anualmente, no penúltimo sábado que antecede o Carnaval, Salvador vai festejar o Dia Municipal dos Palhaços do Rio Vermelho. Em 2026, isso acontecerá no dia 30 de janeiro.
A ideia da data é valorizar a cultura popular e a arte do palhaço como expressão artística e de cidadania, mas também promover a diversidade cultural e acesso democrático à folia carnavalesca; estimular atividades artísticas de rua e ações de inclusão cultural; e reforçar a identidade cultural do bairro do Rio Vermelho e sua relação com o Carnaval de Salvador.
Palhaços do Rio Vermelho
Os Palhaços do Rio Vermelho existem desde a década de 1980, quando amigos decidiram curtir a folia momesca "à moda antiga", sem abadás, cordas ou camarotes. Há 15 anos, no entanto, o projeto se apresenta em formato de desfile. Com fanfarras, colorido e fantasia, o debute foi celebrado em fevereiro deste ano no bairro mais boêmio de Salvador.
Curiosidade: o palhaço Bozo
Wanderley Tribeck, o primeiro intérprete do palhaço Bozo no Brasil, morreu em junho de 2024, aos 73 anos, em Balneário Camboriú, Santa Catarina. Ele sofreu um infarto.
A informação foi confirmada, à época, pelo filho dele, Wanderley Tribeck Jr., nas redes sociais. "O momento é muito triste, o momento é delicado... peço forças, porque por mais que a gente se prepare na vida, para essas coisas a gente nunca está preparado. Meu coração está de luto", lamentou.
Conhecido como Wandeko Pipoka, Tribeck foi escolhido para representar o palhaço mais famoso dos Estados Unidos no Brasil após o apresentador Silvio Santos adquirir os direitos do palhaço para o Brasil. O ano era 1980.
Vários comediantes fizeram testes em Nova York, mas Wanderley Tribeck, que já trabalhava como o palhaço Wandeko Pipoca, foi o escolhido por Larry Harmon, o dono da franquia, para ser o Bozo brasileiro.
Em tempo: SBT comemora 45 anos do programa Bozo no Brasil
Neste ano, o SBT comemorou os 45 anos da estreia do programa Bozo no Brasil, exibido pela primeira vez em 6 de setembro de 1980, na antiga TVS. A programação contou com uma série de lançamentos inéditos que resgataram a nostalgia do icônico palhaço e apresentaram o personagem para as novas gerações.
Como marco oficial desta celebração, Bozo retornou ao licenciamento do SBT e ganhou uma coleção especial de produtos que reforçam sua importância cultural e o carinho do público ao longo de décadas.
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