Bahia pode comprar Fonte Nova? CEO fala sobre planos e uso do antigo CT
CEO do Grupo City admite interesse do Bahia comprar a Fonte Nova, mas pondera que o clube ainda precisa ampliar sua taxa de ocupação no estádio
Por Lucas Pereira.
Durante a coletiva de imprensa para o anúncio da construção do novo CT do Bahia, em Camaçari, que terá investimento orçado em R$ 300 milhões, o CEO do City Football Group, Ferran Soriano, falou sobre a possibilidade do Bahia, por meio do fundo de investimento, comprar a Fonte Nova e incorporar o estádio ao patrimônio do clube.
"Temos um bom relacionamento com a empresa que gerencia a Fonte Nova e estamos bem. No futuro, obviamente, o Bahia quer participar da gestão do estádio, quer fazer investimentos e estamos trabalhando nisso", explicou o gestor.
Soriano ainda falou sobre a diferença entre a necessidade de um novo CT — o Centro Evaristo de Macêdo, em Dias D’Ávila, foi inaugurado em janeiro de 2020 e substituiu o uso do Fazendão — e de assumir um estádio. Além disso, o CEO deixou a entender que há um caminho a ser percorrido até que se entre nessas discussões, especialmente no que diz respeito à taxa de ocupação da torcida por jogo:
“O centro de treinamento é fundamental para o Bahia, independentemente de onde o Bahia jogue seus jogos. Estamos contentes aqui na Arena Fonte Nova. O número de torcedores é grande, mas até um jogo como ontem [contra o Grêmio] a gente tinha 30 mil pessoas e a capacidade são 50 mil. Então, ainda temos capacidade [para mais]".
Planos para o CT Evaristo de Macêdo
O novo equipamento chamado de City Football Academy Bahia deve ser entregue em dezembro de 2027 e uma vez inaugurado deverá comportar todos os times do Bahia, como masculino, feminino e as equipes de base. Dessa forma, não haverá uso para o CT Evaristo de Macêdo e a Cidade Tricolor, em Dias D’Ávila. De acordo com Raul Aguirre, CEO da SAF do Bahia, já há estudos para viabilizar o uso do espaço:
“Nós acreditamos que o CT Evaristo de Macêdo terá uma vida após esse novo CT, seja na forma de um aluguel ou de uma transação. Nós contratamos algumas firmas que nos assessoraram e para nossa grata surpresa há uma demanda por um tipo de infraestrutura como esse, seja na parte de outras empresas para fazer sedes sociais, seja para escolas técnicas até, por exemplo, com o governo, seja para algumas igrejas. Então, isso aqui é um início de exploração, certamente, mas a gente acredita que haverá uma utilização boa do centro atual.
Aguirre ainda explicou o que motivou a construção de um novo CT, uma vez que o atual tem apenas cinco anos de existência e uso: “A principal razão é a questão logística. A gente precisava, queria e vai trazer o centro de treinamento para mais perto da Fonte Nova, da cidade, mas também do aeroporto, que é muito estratégico, dada a quantidade de viagens.”.
Novo CT do Bahia será em Camaçari
O Grupo City estima investir cerca de R$ 300 milhões no novo CT do Bahia, que ficará em Camaçari, na Região Metropolitana de Salvador (RMS). Esta será a nona City Football Academy do grupo no mundo, a terceira na América do Sul.
Serão 12 campos — quatro para o masculino, dois para o feminino e seis para as divisões de base —, um miniestádio com capacidade para mil pessoas, além de um centro administrativo, hotel e estacionamento para 500 vagas.
Raul Aguirre ainda repercutiu críticas sobre a possibilidade da obra invadir o território do Quilombo do Quingoma. “Nunca houve qualquer possibilidade de o Bahia fazer uma obra numa área que é impossível. A gente entende que era especulação e as agências cumpriram seu papel, nós respondemos através dos nossos assessores, mas nunca houve esta consideração”, explicou.
Ele indicou que o clube não conversou com a comunidade, pois o clube “estava deliberando sobre localização somente agora”. “O Bahia tem uma vocação social de vamos ajudar as comunidades que ali começaram a explorar, agora que temos a localização”, explicou.
Segundo o governador Jerônimo Rodrigues (PT), o projeto do Bahia não engloba diretamente o Quingoma, mas áreas próximas à comunidade, na região da Via Metropolitana. “Uma parte vai envolver, mesmo que não diretamente. Claro que vamos seguir todas as regras de exigências ambientais, mas a chegada do Bahia vai nos ajudar a proteger esta área de proteção ambiental”, pontuou.
Em abril de 2024, o Ministério Público Federal (MPF) emitiu recomendação conjunta com as defensorias públicas da União (DPU) e do Estado (DPE), no intuito de solicitar que o Bahia se abstivesse de construir o CT no local, e que a empresa MAC Empreendimentos suspendesse a comercialização de apartamentos do condomínio Joanes Parque.
Além das atividades culturais e agrícolas, o território também abriga iniciativas de educação ambiental e de ecoturismo comunitário. Trilhas são conduzidas por moradores, que apresentam aos visitantes a biodiversidade local e contam a história do quilombo, reforçando a importância da preservação do território frente à crescente especulação imobiliária da região.
Em agosto deste ano, o MPF voltou a notificar o Bahia para explicar se as obras iriam afetar áreas do Quingoma. O procurador da República, Ramiro Rockenbach, afirmou que a atuação tem objetivo de garantir segurança jurídica e prevenir danos irreversíveis. “Estamos falando de uma comunidade tradicional com direitos reconhecidos e de uma área ambientalmente sensível. O MPF não permitirá que empreendimentos avancem sem a devida consulta e sem respeito às normas constitucionais”, disse.
Siga a gente no Insta, Facebook, Bluesky e X. Envie denúncia ou sugestão de pauta para (71) 99940 – 7440 (WhatsApp).