Portos da Bahia: como os terminais impulsionam o estado
Portos da Bahia: entenda sobre a modernização do Porto de Salvador e o futuro estratégico do Porto Sul, a infraestrutura logística e como ela conecta o estado ao comércio global
Por Laraelen Oliveira.
Os portos da Bahia têm se consolidado como peças fundamentais para o desenvolvimento econômico do estado e do Nordeste. Com destaque para o Porto de Salvador, que lidera a movimentação de contêineres na região, e para o futuro Porto Sul, em Ilhéus, projetado para integrar ferrovia, retroporto e terminal marítimo, a infraestrutura portuária baiana está no centro das discussões sobre logística, comércio exterior e competitividade. Entre recordes de produtividade, investimentos em modernização e desafios ambientais, a Bahia busca equilibrar crescimento econômico, eficiência logística e sustentabilidade em um cenário cada vez mais globalizado.
Porto de Salvador: estrutura e movimentação atual
O Porto de Salvador é um dos maiores portos do estado e devido a seu cais que possui cerca de 800 metros com uma profundidade de 16 metros, é considerado o representante do estado, tanto para embarcações quanto para desembarcações, devido a seu papel estratégico na economia e sua posição geográfica privilegiada.
O terminal de contêineres de Salvador (TeconSalvador) é operado pela Wilson Sons, sob supervisão da CODEBA. Desde o início das operações sob arrendamento, foram aplicados mais de US$30 milhões em investimentos sobre equipamentos, infraestrutura e tecnologia, resultando em ganho de produtividade e capacidade operacional.
Devido a essa modernização do porto, o local obteve um novo recorde de eficiência, cerca de 118,5 contêineres foram movimentados por hora na operação com o navio Bartolomeu Dias e aproximadamente 746 contêineres foram movidos em apenas 6 horas e 40 minutos. O terminal conta com o Cais Santa Dulce dos Pobres, que opera atualmente com quatro guindastes super post-Panamax STS, com lanças de 66 e içamento de até 51m, capazes de levantar até 80 toneladas por vez.
Localizado na cidade baixa em Salvador, o porto continuou crescendo e acumulou 3,1 milhões de toneladas movimentadas, apenas no primeiro semestre de 2025, ultrapassando o Porto de Aratu e assumindo a liderança entre os portos da Bahia. A proximidade com os centros de consumo, facilita o transporte de mercadorias a diferentes polos da região, além de que por ser um terminal com uma estrutura capaz de receber supernavios, acabou chamando a atenção da Ásia e Europa, com a possibilidade de importações para comércio internacional.
O porto de Salvador tem se tornado um ponto estratégico para o Nordeste, principalmente com se trata de infraestrutura e profundidade de cais, porém apesar da sua produtividade e referência em movimentação, o estado ainda se torna dependente de outros portos. O porto de Ilhéus por exemplo, tem se tornado uma das maiores necessidades a serem reformadas devido ao escoamento de minério (Caetité, Bamin), grãos (soja, milho, algodão) e celulose, que são produzidos nas regiões ao Sul do estado da Bahia.
O projeto estratégico do Porto Sul em Ilhéus
O porto de Ilhéus é um ponto estratégico para o escoamento de produtos agrícolas, assim como o minério de ferro. Essa região é responsável por grandes volumes de soja, milho e algodão, especialmente para os municípios de Barreiras, Luís Eduardo Magalhães e São Desidério, que fazem parte do corredor produtivo do MATOPIBA.
Já o Porto Sul faz parte de um amplo complexo intermodal, planejado para integrar diversos pontos estratégicos da região Sul, como o terminal marítimo offshore (com quebra-mar, bacia de evolução e ponte marítima), o Retroporto (área terrestre de apoio, armazenagem e logística), a linha Ferroviária de Integração Oeste-Leste (FIOL) ligando o porto oeste da Bahia, passando por Caetité até Tocantins.
O Porto Sul em Ilhéus não é apenas um terminal portuário: ele faz parte de um complexo intermodal estratégico, planejado para integrar o terminal marítimo offshore, o retroporto terrestre e a Linha Ferroviária de Integração Oeste-Leste (FIOL). Essa integração é fundamental para conectar o interior produtivo da Bahia com os mercados internacionais, reduzindo custos e aumentando a competitividade das exportações.
A FIOL ao ligar diretamente o interior produtivo ao Porto Sul, a ferrovia permite que os grãos e outros produtos agrícolas sejam transportados por trem de forma rápida, segura e econômica, eliminando parte do percurso rodoviário e evitando gargalos urbanos.
Portanto, o Porto Sul e a produção agrícola do Oeste baiano estão diretamente conectados,o porto fornece a infraestrutura para exportação em larga escala, a FIOL garante que os produtos cheguem até o porto de forma eficiente e o complexo intermodal, com retroporto e terminal offshore, possibilita movimentação e armazenamento de grandes volumes, tanto de grãos quanto de minérios.
Em resumo, a finalização do Porto Sul e da FIOL transforma Ilhéus em um ponto estratégico para o escoamento de produtos agrícolas e minérios, ligando o interior produtivo da Bahia diretamente ao comércio internacional, de forma muito mais competitiva que as alternativas atuais via porto de Salvador e Aratu.
Conexão entre portos, rodovias e ferrovias
A conexão entre portos, rodovias e ferrovias na Bahia, conhecida como logística multimodal, é um dos pilares do transporte de cargas no estado e influencia diretamente o custo, o tempo e a competitividade dos produtos baianos no mercado nacional e internacional. Atualmente, os portos de Salvador, Aratu e TEMADRE enfrentam gargalos significativos, Salvador depende exclusivamente de caminhões, sem ligação ferroviária, o que sobrecarrega as rodovias urbanas, já o porto de Aratu atende principalmente granéis industriais e conta com ferrovia pouco utilizada e o TEMADRE é altamente especializado em derivados de petróleo, sem integração ampla de modais. Essa situação limita a capacidade de exportação de grandes volumes, especialmente de grãos, minério de ferro e celulose, produzidos no interior do estado.
O Porto Sul, em Ilhéus, surge como solução estratégica para esses gargalos, integrando rodovias, ferrovia e porto em um complexo multimodal. A FIOL (Ferrovia de Integração Oeste-Leste) conectará diretamente o Oeste e Sudoeste da Bahia, regiões produtoras de soja, milho, algodão e minério de ferro, ao Porto Sul, criando um corredor eficiente de exportação até o Atlântico. O porto offshore foi projetado para receber grandes navios graneleiros, enquanto o retroporto permite armazenagem e movimentação rápida de cargas, reduzindo a dependência de caminhões e descongestionando rodovias urbanas.
Com essa integração, o Porto Sul não apenas facilita o escoamento de produtos agrícolas e minerais, mas também aumenta a competitividade da Bahia no comércio internacional e promove a descentralização econômica do estado. Ao conectar diretamente o interior produtivo ao mercado global, o complexo multimodal reduz custos logísticos, acelera o transporte e torna o escoamento de commodities mais sustentável. Dessa forma, Ilhéus se consolida como ponto estratégico para o desenvolvimento econômico e logístico da Bahia.
O papel dos portos na exportação de minérios, grãos e frutas
Os portos desempenham um papel essencial na economia brasileira porque são o elo entre a produção interna e o mercado internacional. No caso de produtos como minérios, grãos e frutas, essa função é ainda mais estratégica, já que o Brasil é um dos maiores exportadores globais desses itens e depende quase exclusivamente da via marítima para transportá-los.
O minério de ferro é o principal material das exportações brasileiras e exige uma grande infraestrutura portuária. Como o produto é transportado em altíssimos volumes e com baixo valor agregado por tonelada, a eficiência logística é fundamental para manter a competitividade. Portos com calado profundo, capazes de receber grandes navios graneleiros (como os capesize), tornam-se indispensáveis. No caso da Bahia, o futuro Porto Sul, em Ilhéus, será o ponto de saída do minério produzido em Caetité pela Bamin, conectado diretamente à Ferrovia de Integração Oeste-Leste (FIOL).
A produção de soja, milho e algodão no Oeste da Bahia cresce ano após ano e demanda canais logísticos que deem vazão a milhões de toneladas destinadas principalmente à Ásia e à Europa. Atualmente, grande parte dessa carga percorre longos trajetos de caminhão até os portos do Sudeste ou do Arco Norte, o que encarece o produto. Nesse contexto, portos baianos ganham importância, enquanto Aratu e Salvador têm limitações de espaço e dependem muito de rodovias, o Porto Sul surge como alternativa competitiva, já que sua conexão ferroviária pode transformar o escoamento agrícola da região em um dos mais eficientes do país.
As frutas tropicais, especialmente manga, uva, mamão e melão, dependem fortemente da exportação via marítima. Como são produtos perecíveis e exigem cuidados específicos de refrigeração, os portos precisam oferecer infraestrutura para contêineres refrigerados (reefers) e terminais adaptados para a cadeia do frio. Nesse caso, o Porto de Salvador se destaca, pois é o principal responsável pela exportação de frutas do Nordeste para a Europa, funcionando como corredor logístico ágil para produtores. Além da exportação direta, Salvador também se conecta à cabotagem, que redistribui frutas para outros portos brasileiros antes de seguir para o exterior.
O sucesso dos portos na exportação de minérios, grãos e frutas depende não apenas da estrutura portuária, mas também da conexão com rodovias e ferrovias. Minérios e grãos exigem ferrovias eficientes para grandes distâncias, enquanto frutas precisam de rodovias rápidas e bem conservadas para garantir a qualidade no transporte. O grande desafio do Brasil, e em especial da Bahia, é superar a dependência quase exclusiva do modal rodoviário, que encarece o frete e sobrecarrega a infraestrutura urbana, como ocorre no Porto de Salvador.
Desafios ambientais e licenças
O estado da Bahia tem ganhado recentemente protagonismo no quesito de sustentabilidade, integrando práticas ambientais, sociais e econômicas a seus projetos de infraestrutura em desenvolvimento. Os investimentos em energias renováveis, como parques eólicos e solares, favorecem uma realidade de crescimento econômico para conservação de ecossistemas, juntamente a um desenvolvimento mais equilibrado para o estado e sua população. Porém esse crescimento demasiado vem acompanhado de empecilhos, como as manobras para favorecer a construção e renovação dos portos, que estão, geralmente, acompanhadas de desafios ambientais e o compromisso com as políticas nacionais de comprometimento ao meio ambiente.
O maior desafio tem sido relacionado ao processo de licenciamento ambiental. No Brasil, ele é regido pela Política Nacional do Meio Ambiente (Lei 6.938/1981) e pelo CONAMA. O desenvolvimento da licitação é dividido em três etapas: Licença Prévia (LP), Licença de Instalação (LI) e Licença de Operação (LO).
A primeira parte é chamada de Licença Prévia (LP), emitida durante a fase de planejamento, ela exige o EIA/RIMA (Estudo e Relatório de Impacto Ambiental) para avaliar a viabilidade e impactos ambientais do projeto idealizado. Já a Licença de Instalação (LI) se caracteriza pelo processo de autorização das obras, condicionada à implementação de medidas de mitigação, como programas de reflorestamento, monitoramento de fauna e compensações ambientais. Por fim, a Licença de Operação (LO) é concedida após a conclusão das obras e permite o início das atividade portuárias, partindo do viés que as condicionantes para a aprovação foram cumpridas.
As etapas de licenciamento não são os únicos empecilhos para a construção, ou, revigoração dos portos, pois levanta-se um dilema ético ambiental sobre as alterações que os projetos portuários trazem, as dragagens feitas para aumentar a profundidade do canal pode causar assoreamento e perda de habitats marinhos, com impactos diretos nos manguezais, restingas e recifes, reduzindo significativamente os peixes e mariscos da região.
Infraestrutura da Bahia: veja como os modais se conectam
A infraestrutura de transporte da Bahia ainda é fortemente rodoviária, o que encarece o frete e gera gargalos urbanos. Os portos de Salvador e Aratu cumprem papel importante, mas dependem desse modal. Já o Porto Sul, com a FIOL, representa a grande oportunidade de transformação, trazendo a ferrovia como protagonista na exportação de commodities. Essa integração dos modais é o que pode colocar a Bahia em posição de destaque na logística nacional e internacional.
Os outros modais de transporte, rodoviário, ferroviário e dutoviário, se conectam ao modal marítimo por meio de infraestruturas logísticas de integração, garantindo que a carga chegue aos portos e, a partir deles, siga para o comércio internacional ou cabotagem. Essa conexão é essencial, porque o navio é capaz de movimentar grandes volumes a baixo custo, mas depende de meios terrestres para que a mercadoria chegue até o terminal portuário.
O modal rodoviário é o mais utilizado no Brasil para conectar áreas produtoras aos portos. Caminhões transportam cargas de curta e média distância até terminais marítimos. No caso da Bahia, o Porto de Salvador e o Porto de Aratu dependem fortemente da BR-324 e outras rodovias estaduais para receber e distribuir mercadorias. É o modal com maior capilaridade, mas gera gargalos urbanos e maior custo por tonelada transportada.
Já o ferroviário é estratégico para o escoamento de grandes volumes em longas distâncias, especialmente grãos, minérios e celulose. Quando conectado ao porto, reduz custos logísticos e impactos ambientais. A Bahia terá essa integração com o Porto Sul (Ilhéus), ligado diretamente à FIOL (Ferrovia de Integração Oeste-Leste), permitindo que a produção do interior chegue ao litoral de forma mais rápida e eficiente.
Por fim, o modal dutoviário é usado principalmente para granéis líquidos e gasosos, como petróleo e derivados. É uma forma mais segura e contínua, que conecta refinarias a terminais portuários. Um exemplo na Bahia é o TEMADRE (Madre de Deus), que recebe derivados da Refinaria de Mataripe por oleodutos, dispensando caminhões ou trens.
Assim, os modais funcionam de forma complementar: caminhões dão capilaridade, ferrovias transportam grandes volumes, dutos atendem cargas específicas, e todos convergem no porto, que é a porta de saída e entrada para o mercado global.
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