Após Overclean, cresce pressão para saída do Centrão do governo Lula
Deputado Dal Barreto (União) comandava cargos no Correios da Bahia: Após Overclean, cresce pressão para saída do Centrão do governo Lula
Por João Tramm.
Após Overclean, cresce pressão para saída do Centrão do governo Lula. A nova fase deflagrada nesta semana pela Polícia Federal, que investiga o deputado federal Dal Barreto (União-BA) por suspeita de desvio de recursos de emendas parlamentares e favorecimento de empresas próprias em contratos com prefeituras, aumentou a pressão dentro do governo federal para um rompimento definitivo com o Centrão.
Em entrevista exclusiva ao Aratu On, o deputado Jorge Solla (PT-BA) afirmou que o caso “escancara a contradição de manter aliados do bolsonarismo controlando cargos estratégicos no governo Lula”.
Após Overclean, cresce pressão para saída do Centrão do governo Lula
Solla criticou duramente a permanência de Dal Barreto em postos de influência no governo federal, mesmo após sucessivos votos contrários ao Executivo e ligações explícitas com grupos de oposição.
“Ele continua atacando o presidente Lula, continua fazendo campanha para Tarcísio e defendendo a candidatura de ACM Neto. Desde que Lula tomou posse, ele se comporta como se fosse aliado, mas nunca foi. Fez campanha para Bolsonaro, votou contra o governo o tempo todo e agora a gente entende o motivo: queria se proteger”, afirmou o petista.
Segundo informou Solla, Dal Barreto controla toda a estrutura dos Correios na Bahia, com influência sobre cargos e contratos nos 417 municípios do estado. A informação foi confirmada por fontes ao Aratu On.
“Ele controla os Correios de porteira fechada. Em vez de ajudar a melhorar os serviços, sabotou medidas saneadoras e usou a estrutura da estatal para seus próprios interesses”, acusou o deputado.
Durante a inauguração da fábrica da BYD, trabalhadores dos Correios protestaram neste sentido. O Sindicato dos Trabalhadores e Correios e Telégrafos do Estado da Bahia criticou a crise financeira da empresa estatal. No protesto, fontes informaram ao Aratu On que, apesar de Lula não ter escolhido privatizar, o governo está destruindo a empresa por dentro.
“Ilusão achar que União Brasil vai apoiar Lula”
Solla não considerou um erro do presidente Lula ter dado espaço para o centrão no governo, mas afirmou que considera “ilusório”, por parte do presidente Lula, o cálculo político do governo de manter União Brasil e PP em espaços de poder como estratégia de ampliação da base.
“É muita ilusão achar que com tantos privilégios esses parlamentares vão apoiar Lula. Eles não apoiaram em 2022 e não apoiarão em 2026. Os interesses são opostos”, disse.
O parlamentar defende que o governo retire cargos e privilégios de quem vota contra as pautas sociais e econômicas do Executivo. “Não tem por que esses deputados, que não ajudam, terem tanto acesso a cargos e a emendas. É preciso coerência”, completou.
Pressão sobre o Centrão
O caso ocorre em meio a uma crise política entre o governo e partidos do Centrão após a queda da Medida Provisória do IOF, derrubada na Câmara. O episódio foi interpretado como um recado das legendas ao Planalto.
Com o avanço da Overclean, o governo começou a exonerar indicados de PP, União Brasil, PSD e MDB de cargos em segundo escalão. No Congresso, as próprias siglas também anunciaram o desembarque oficial da base aliada.
A federação União Progressista (União Brasil + PP), que soma mais de 100 parlamentares, determinou que seus filiados renunciem aos cargos ocupados no governo federal. O movimento foi visto como um passo para a ruptura total com o Executivo.
Enquanto isso, ministros de partidos do Centrão tentam se manter no governo. André Fufuca, do PP, permanece à frente do Ministério do Esporte após se desfiliar da legenda, e Celso Sabino, do União Brasil, enfrenta processo de expulsão, mas segue no Ministério do Turismo.
Denúncias de uso político e suspeitas de favorecimento
O petista destacou ainda que há denúncias internas de sucateamento dos Correios sob a atual gestão estadual, supostamente indicada por Dal Barreto, e suspeitas de direcionamento de contratos: “As investigações ainda vão apurar suspeitas de que a frota dos Correios abastece em postos ligados ao deputado. Ele tem mais de 150 postos espalhados pela Bahia”, declarou.
De acordo com levantamento do UOL, as empresas ligadas a Barreto receberam R$ 30,9 milhões de 13 prefeituras baianas em 2022. O patrimônio do parlamentar teria saltado de R$ 516 mil em 2008 para R$ 7,3 milhões em 2022, o que chamou a atenção da Polícia Federal e motivou a operação.
Solla e Dal Barreto são adversários políticos históricos no mesmo território eleitoral, a região de Amargosa, no Recôncavo baiano: “Nós somos dois deputados federais em constante competição. Eu apoiei Lula e Jerônimo Rodrigues; ele, Bolsonaro e ACM Neto. Apesar disso, seguimos apoiando ações do governo federal na saúde, educação e infraestrutura”, comentou Solla.
O petista, no entanto, ressaltou que as divergências vão além do campo eleitoral e refletem um conflito ético e de projeto de país: “Essa turma não está preocupada com o povo brasileiro. Representa os super-ricos, banqueiros e empreiteiras. Sempre foi assim”, disparou.
O que disse o deputado Dal Barreto sobre a Operação Overclean
Por meio de nota, o deputado Dal disse que não teve "acesso ao inquérito policial, apenas ao mandado de busca e apreensão, não tendo, portanto, conhecimento acerca dos fatos investigados". Além disso, o parlamentar afirmou que está "à inteira disposição da Polícia Federal para colaborar com as investigações e prestar os devidos esclarecimentos, sempre que solicitado, agindo com transparência e respeito às instituições".
Confira a nota completa:
"O Deputado Federal Dal (Adalberto Rosa Barreto) vem a público manifestar-se sobre a operação da Polícia Federal, realizada em 14 de outubro de 2025, conforme veiculado pelos meios de comunicação.
Esclareço, por oportuno, que não tive acesso ao inquérito policial, apenas ao mandado de busca e apreensão, não tendo, portanto, conhecimento acerca dos fatos investigados.
Dessa forma, coloco-me à inteira disposição da Polícia Federal para colaborar com as investigações e prestar os devidos esclarecimentos, sempre que solicitado, agindo com transparência e respeito às instituições.
Reitero, igualmente, minha plena confiança nas instituições brasileiras e que, tão logo seja possível, todos os pontos serão devidamente esclarecidos, seja por meio do meu depoimento às autoridades competentes ou por intermédio da defesa técnica devidamente constituída nos autos do inquérito, pois tenho certeza da conduta proba, republicana e dentro da legalidade que sempre tratei com os recursos públicos, logo a minha completa inocência será amplamente demonstrada.
Reafirmo, ainda, meu compromisso com o povo baiano, com a verdade e com a legalidade, confiando que a apuração será conduzida de forma isenta, técnica e respeitosa."
Operação Overclean
Deflagrada em diversas fases, a Operação Overclean é uma ação conjunta da Polícia Federal (PF) e outras autoridades, com a Controladoria Geral da União (CGU). A ação seguiu com foco na desarticulação de um esquema criminoso envolvendo fraudes em licitações, desvio de recursos públicos oriundos de emendas parlamentares, corrupção e lavagem de dinheiro. O Aratu On explicou o que são emendas parlamentares e por qual motivo viraram alvos de desvios.
Diversos políticos baianos foram alvos dos desdobramentos da Overclean. Na quarta fase, o deputado federal Félix Mendonça Júnior (PDT), teria direcionado R$ 9,2 milhões em emendas parlamentares para as cidades de Boquira, Ibipitanga e Paratinga, onde teriam ocorrido manipulação de licitações e pagamento de propina para liberação desses recursos. Os prefeitos dessas cidades — Humberto Raimundo (PT) e Alan França (PSB) — foram afastados por participação no esquema.
Dos 18 alvos de mandados de busca e apreensão cumpridos na quinta fase da Operação Overclean, deflagrada em julho, ao menos três fazem parte entorno do deputado federal baiano Elmar Nascimento (União). A força-tarefa investiga esquema criminoso envolvendo fraudes em licitações, desvio de recursos públicos oriundos de emendas parlamentares, corrupção e lavagem de dinheiro.
Segundo apuração do Aratu On, foram alvos da operação, novamente, o prefeito de Campo Formoso e irmão de Elmar, Elmo Nascimento União), o ex-assessor do deputado, Amaury Albuquerque Nascimento, e o vereador Francisquinho Nascimento (União), primo de Elmar - este, chegou a ser preso na primeira fase da força-tarefa.
Em entrevista ao Aratu On, o cientista político João Vilas-Boas apontou que os efeitos mais visíveis dos desdobramentos da operação serão sentidos nas articulações para as eleições do ano que vem.
“A nova fase da Operação Overclean deve ter um impacto direto nas articulações políticas para as eleições de 2026 na Bahia. Como a operação atinge nomes ligados tanto ao grupo do governador quanto da oposição, a disputa entre os dois, que devem voltar a se enfrentar em 2026, pode ser marcada por menos espaço para acusações mútuas. Isso pode levar a uma eleição mais centrada em propostas e desempenho de governo, e menos em denúncias ou escândalos pessoais”, analisa.
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