Salvador ganha murais em homenagem a Santa Bárbara e Iansã; veja fotos
Intervenção celebra a homenagem a Santa Bárbara e integra projeto que prevê novos murais inspirados nas festas populares de Salvador
Por Ananda Costa.
Salvador ganhou novos murais em homenagem a Santa Bárbara e a Iansã, herança de fé e sincretismo na Bahia, no Mercado de Santa Bárbara, na Baixa dos Sapateiros. As obras fazem parte do projeto Viva Salvador: arte, fé e tradição, que marca o início de uma série de intervenções urbanas dedicadas às festas populares religiosas da capital baiana.

Os grafites foram produzidos em dois dias de trabalho por artistas reconhecidos na cena urbana local. Um dos murais é assinado por Bigod e Prisk, do Coletivo MUSAS – Museu de Street Art de Salvador. O outro foi criado pelo grafiteiro Tárcio V, nome de destaque no estado.
Idealizado pela Viva Agência de Ideias, sob direção de Paula Hazin, o projeto busca valorizar memória, fé e identidade cultural por meio da arte urbana. “A ideia é homenagear a cidade com esta linguagem tão linda que é o grafite, começando pela festa de Santa Bárbara. Queremos envolver arte, fé e festa, repensando os espaços públicos e trazendo beleza”, afirmou Hazin.

Arte urbana e valorização cultural em homenagem a Santa Bárbara
O Viva Salvador prevê a criação de pelo menos sete murais inspirados em grandes celebrações religiosas da cidade, como São Lázaro, Nossa Senhora da Conceição da Praia, Bom Jesus dos Navegantes, Lavagem do Bonfim, Iemanjá e Carnaval. Os locais serão escolhidos em diálogo com comunidades e órgãos públicos, priorizando áreas de grande circulação ou que enfrentam degradação urbana.
A iniciativa também inclui oficinas gratuitas de grafite para jovens de bairros populares, com aulas teóricas e práticas sobre técnicas de pintura, história da arte urbana e identidade cultural. Os participantes poderão integrar a criação de novos murais.
Além disso, o projeto vai promover mesas-redondas e seminários com artistas, pesquisadores, lideranças comunitárias e representantes religiosos para discutir símbolos e tradições das festas populares de Salvador. Um mini documentário sobre o processo criativo também está previsto.
Origem da Festa de Santa Bárbara
Todos os anos, a Festa de Santa Bárbara abre, em 4 de dezembro, o calendário das festas populares da Bahia, que vai até o Carnaval. Realizada no Centro Histórico de Salvador, a celebração reúne fé, sincretismo, devoção popular e muitas referências às religiões de matriz africana, especialmente à Iansã, orixá dos ventos e tempestades.
Mas, apesar de conhecer a celebração, talvez, vez ou outra, você se pergunte: qual é a origem da Festa de Santa Bárbara?
A pesquisadora Carla Bahia, que estuda a celebração, explicou que festa se distingue pelo simbolismo e pela força popular: “A festa de Santa Bárbara, por si só, chama a atenção. Ela é quente. Ela não é só vermelha, é vermelha, branca, rosa. Ela tem brilho, tem borboletas nos torsos. Ela tem perfume de acarajé, de dendê. Ela tem brilho nos olhos, tem pedido de: ‘Por favor, minha mãe, não me abandone’”.
Além da Festa de Santa Bárbara, Salvador é marcada pela Lavagem do Bonfim, maior celebração religiosa da Bahia. Você conhece a história do cortejo?
A devoção a Santa Bárbara em Salvador remonta ao século XVII, quando uma imagem trazida por portugueses foi entronizada no então Morgado de Santa Bárbara, no Comércio. Ao longo dos séculos, a festa passou por diferentes locais, acompanhando mudanças urbanas e históricas, até se consolidar no Pelourinho.
Padroeira dos bombeiros, mineiros e artilheiros, Santa Bárbara também é invocada contra raios e tempestades. Sua história, segundo a tradição cristã, remonta ao século III, quando foi martirizada após se converter ao cristianismo.
O sincretismo religioso marca a celebração. Muitos devotos associam a santa a Iansã, e não é incomum ouvir saudações como “Saravá”, “Oiá” e “Epà Hey” durante a procissão. De acordo com Elisangela Silva, presidente do Afoxé Filhos de Korin Efan, o momento reforça a união entre culturas. “Para nós, o dia 4 é uma data muito importante, porque, enquanto instituição cultural negra com influência do candomblé, celebramos Santa Bárbara e também Iansã”, afirma.
Registrada como Patrimônio Imaterial da Bahia desde 2008, a Festa de Santa Bárbara é considerada um símbolo de fé e resistência. Para o padre Lázaro, a celebração traduz simplicidade e acolhimento. “É sempre uma honra celebrar a festa de Santa Bárbara, sempre uma alegria, porque é uma festa que, pela sua espontaneidade, se estabelece, porque o povo vem, os devotos chegam e a gente não precisa fazer grandes movimentações, pois os devotos estão aí e vêm rezar, porque já tem no sangue essa devoção”, afirma.
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