Cólica na adolescência aumenta risco de dor crônica, aponta estudo

Estudo indica que cólica intensa na adolescência pode aumentar risco de dor crônica

Por Da redação.

Uma nova pesquisa reforça que a cólica na adolescência, quando intensa e recorrente, não deve ser naturalizada. O estudo indica que tratar a dismenorreia severa precocemente pode evitar anos de dor e melhorar a qualidade de vida.

Realizado por pesquisadores britânicos e brasileiros, o trabalho mostra que adolescentes que sofrem com cólicas fortes têm maior risco de desenvolver dor crônica na vida adulta - mesmo fora do período menstrual e em diferentes regiões do corpo.

Cólica intensa e recorrente na adolescência aumenta risco de dor crônica | Foto: Andrea Piacquadio/Pexels

Estudo acompanhou adolescentes por 12 anos

A pesquisa, publicada em novembro na revista The Lancet Child & Adolescent Health, analisou 1.157 meninas monitoradas desde o nascimento pelo estudo Avon Longitudinal Study of Parents and Children (ALSPAC), no Reino Unido.

Aos 15 anos, as participantes classificaram a intensidade da cólica menstrual. Aos 26, relataram dores persistentes por mais de três meses, critério usado para definir dor crônica. O estudo excluiu adolescentes que já tinham histórico de dor crônica antes da menarca.

Os dados apontam que 84% das mulheres tiveram algum grau de cólica na adolescência. Entre elas, 59% sentiam dor moderada ou severa. Aos 26 anos, 26,5% das participantes relataram dor crônica. O índice subiu de 17% entre quem nunca teve cólica para 33,5% entre as que sofreram dor intensa.

As adolescentes com dor moderada ou intensa tinham 76% mais risco de desenvolver dor crônica na vida adulta. As queixas mais comuns incluíram dores nas costas, cabeça e abdômen, além de articulações e pernas.

O que explica essa relação de cólica intensa na adolescência e dor crônica?

Segundo o ginecologista Omero Benedicto Poli Netto, da USP, “durante muito tempo se achou que a dor menstrual era um fenômeno hormonal e limitado ao útero. Hoje sabemos que, em muitas mulheres, ela representa uma alteração mais ampla nos mecanismos de percepção e controle da dor, envolvendo o sistema nervoso central”.

A dismenorreia ocorre pelas contrações uterinas que ajudam a expelir o sangue menstrual. “Essas contrações são mediadas pela liberação de prostaglandinas, substâncias inflamatórias que causam dor. Quando são muito intensas, reduzem o fluxo de oxigênio nas fibras musculares do útero e isso aumenta a sensação dolorosa”, explica a ginecologista Renata Bonaccorso Lamego.

Uma das hipóteses levantadas pelo estudo é a sensibilização central — mecanismo no qual o sistema nervoso cria uma “memória dolorosa”. “É como se o sistema nervoso fosse treinado a responder de forma amplificada à dor”, afirma Poli Netto.

Fatores emocionais e genéticos também influenciam na dor

O estudo também encontrou associação entre dor crônica, ansiedade e depressão. “A dor crônica pode estar associada ao desenvolvimento de sintomas depressivos e ansiosos, mas pessoas com histórico de ansiedade e depressão também são mais vulneráveis a desenvolver dor. É um círculo vicioso”, observa o pesquisador da USP.

Há ainda componentes biológicos individuais. “Há uma predisposição genética, mas ainda não é possível afirmar com precisão por que algumas meninas sentem mais dor que outras”, explica Lamego.

Como lidar com a cólica na adolescência

Especialistas reforçam que nenhuma dor deve ser considerada normal. “O que é aceitável é um desconforto leve que melhora com analgésicos simples. Se a dor interrompe a rotina, causa faltas na escola ou não melhora com remédios comuns, já merece investigação”, afirma Lamego.

Entre as estratégias para reduzir a dor e evitar sua cronicidade estão:

  • uso correto de anticoncepcionais hormonais;
  • atividade física regular;
  • sono adequado e alimentação equilibrada;
  • bolsa de água quente para relaxamento muscular;
  • uso de ácido tranexâmico para redução do fluxo menstrual, quando indicado.

Para Poli Netto, os achados reforçam a necessidade de políticas públicas de educação menstrual. “A atividade física tem múltiplos efeitos que ajudam a modular a resposta à dor. Já o engajamento social e emocional reduz a percepção negativa do sintoma e melhora o bem-estar geral”, conclui.

*Com informações da Agência Einstein

Em tempo: Câmara aprova urgência na tramitação do projeto de licença menstrual para quem tem sintomas intensos

Em outubro deste ano, a Câmara dos Deputados aprovou urgência na tramitação do Projeto de Lei (PL) 1.249/22, que assegura até três dias consecutivos de afastamento remunerado por mês para mulheres que apresentem sintomas intensos relacionados ao ciclo menstrual.

Câmara aprovou projeto de licença menstrual | Foto ilustrativa/Pexels

Mesmo com a tramitação mais rápida, o texto ainda será examinado de forma conclusiva pelas comissões de Defesa dos Direitos da Mulher; de Trabalho, Administração e Serviço Público; e de Constituição e Justiça e de Cidadania. O PL 1.249 propõe a inserção da licença menstrual na Consolidação das Leis do Trabalho (CLT), por meio da alteração do artigo 473. A iniciativa é da deputada Jandira Feghali (PCdoB-RJ). 

“A cada mês as mulheres em idade fértil enfrentam desconfortos, em graus variados, no período menstrual. Para a maioria delas, esse período é marcado por sintomas de intensidade leve ou mediana como cólicas, indisposição, dor de cabeça ou enxaqueca. Mas, cerca de 15% das mulheres enfrentam sintomas graves, com fortes dores na região inferior do abdômen e cólicas intensas, que chegam, muitas vezes, a prejudicar sua rotina”, diz trecho da justificativa do projeto.

Com a aprovação da urgência, o texto seguirá para votação no plenário da Câmara dos Deputados.

Em tempo: cólicas fizeram mulher descobrir órgãos a mais

No ano passado, uma australiana de 31 anos descrobriu que possuía cinco órgãos a mais em seu corpo após sofrer com cólicas intensas. A mulher, de nome Mel Placanica, compartilhou o caso em suas redes sociais. Segundo ela, inicialmente, a suspeita era de um tumor no útero, mas os resultados mostraram outra realidade.

Mulheres sentem mais dor do que homens?

Conforme artigo publicado no Aratu On pela médica Anita Rocha, é fato que mulheres sentem mais dor do que os homens. Ela destacou no texto que as mulheres são mais frequentemente acometidas por patologias como fibromialgia e enxaqueca, sendo mais afetadas negativamente pela dor quando comparadas com os indivíduos do sexo masculino.

Um trabalho publicado na New England Journal of Medicine mostrou que as mulheres avaliadas em serviços de dor torácica são sete vezes mais propensas do que os homens a serem mal diagnosticadas e liberadas dessas unidades específicas sem tratamento adequado. Acredita-se que fatores culturais e históricos contribuam para um maior impacto da dor na vida das mulheres, seja no âmbito fisiológico, psicológico ou social.

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