756 mil baianos são afetados pelo fechamento de agências bancárias
Levantamento obtido com exclusividade pelo Aratu On aponta que 34 municípios da Bahia perderam sua única agência, ao todo são 756 mil baianos afetados pelo totalizando 756 mil baianos afetados pelo fechamento de agências
Por João Tramm.
Entre outubro de 2023 e julho de 2025, a Bahia sofreu uma reconfiguração profunda no setor bancário. Nesse período, o Bradesco fechou 45 agências no estado e inaugurou apenas duas novas — ambas em cidades que já contavam com unidades do banco. O resultado foi uma redução líquida de 43 agências, segundo levantamento do Sindicato dos Bancários da Bahia. Os dados são do levantamento do Sindicato dos Bancários, obtidos com exclusividade pelo Aratu On.
O impacto é direto sobre a população: 34 municípios perderam a única agência Bradesco que possuíam, e em 19 desses municípios não restou nenhuma agência bancária de qualquer instituição financeira. Isso significa que 279 mil pessoas passaram a viver em cidades completamente desassistidas de atendimento bancário presencial. No total, 756 mil baianos foram diretamente afetados pelos fechamentos.
O fechamento das agências traz uma redução significativa de postos de trabalho. Entre outubro de 2023 e julho de 2025, 259 trabalhadores foram dispensados sem justa causa pelo Bradesco na Bahia.
A crise não se restringe ao Bradesco. Nesta semana, o Itaú Unibanco, maior banco privado do país, fez, na última segunda-feira (8), uma série de demissões de funcionários, mobilizando reações de representatividades sindicais dos bancários.
A motivação das dispensas estaria relacionada com uma suposta baixa produtividade dos demitidos, que atuavam em regime híbrido ou totalmente remoto.
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Comércio e aposentados afetados pelos fechamentos
O fechamento das únicas agências em diversas cidades gerou efeitos em cadeia. Quem depende de numerário para movimentar o comércio local sofre com a escassez. Em entrevista ao Aratu On, Ronaldo Ornelas, representante do Sindicato dos Bancários da Bahia, descreveu a gravidade da situação:
“Essa agência bancária é ela quem abastece a lotérica e toda cidade. E quando acontece o fechamento dessa única agência da cidade acontece uma escassez de numerário. O comércio tem sofrido com isso. Quando o aposentado vai em um correspondente bancário sacar, como numa farmácia, o funcionário precisa pedir para o aposentado esperar alguém comprar algo na farmácia. E ainda pagar parcelado. Isso é criminoso. O aposentado já tem uma hipervulnerabilidade e isso está sendo agravado”, denuncia Ornelas.
Além da dificuldade no saque, há ainda uma fuga de recursos para cidades vizinhas. Moradores que precisam se deslocar para municípios próximos acabam realizando compras e movimentando a economia fora de sua própria cidade. “Essas pessoas que iam sacar na única agência bancária vão precisar sacar em outras cidades. E ele vai gastar nessa outra cidade. Essa é uma reclamação do comércio local”, reforça o sindicalista.
Cidades com agências fechadas
Dos 417 municípios baianos, apenas 209 contam hoje com pelo menos uma agência bancária de qualquer banco. Isso significa que mais da metade do estado convive com ausência total ou severas limitações de acesso a serviços financeiros básicos.
Mesmo nas cidades maiores, a redução foi significativa: Salvador perdeu sete agências (restam 36), Lauro de Freitas perdeu duas (restam 3) e Ilhéus perdeu uma (resta apenas 1). Já em cidades de médio porte como Camaçari, a rede também encolheu — uma agência fechada, restando apenas duas.
Os próximos fechamentos já anunciados, como em Chorrochó, Tanque Novo, Pedro Alexandre e Santa Brígida, tendem a ampliar o cenário de desassistência. Nos dois últimos casos, as cidades não possuem agências de outros bancos, o que pode levar seus habitantes a uma dependência exclusiva de correspondentes bancários e lotéricas.
O fechamento das agências trouxe também uma redução significativa de postos de trabalho. Entre outubro de 2023 e julho de 2025, 259 trabalhadores foram dispensados sem justa causa pelo Bradesco na Bahia.
Justiça atenta ao fechamento de agências
Além da questão laboral e social há um debate jurídico em curso: o Judiciário tem reconhecido os serviços bancários como essenciais e de interesse público, equiparados a serviços públicos pela Lei nº 7.783/89. Esse entendimento reforça a possibilidade de intervenção judicial quando o direito da população ao acesso bancário é ameaçado.
O caso de Chorrochó se tornou emblemático. Em decisão recente, o Tribunal de Justiça da Bahia determinou que o Bradesco mantenha em funcionamento integral a unidade local até que instale uma agência avançada ou estrutura equivalente. O descumprimento pode acarretar multa diária de R$ 100 mil e até crime de desobediência.
Essa decisão segue precedentes do próprio TJBA em municípios como Ubatã e Abaíra, onde o Judiciário exigiu planos de contingência e ressaltou a essencialidade do serviço bancário. O Supremo Tribunal Federal (STF), em casos análogos, também reconhece a legitimidade da intervenção judicial quando há “deficiência grave na efetivação de direitos fundamentais”.
A pressão contra os fechamentos deve ganhar novos capítulos. Segundo Ronaldo Ornelas, uma reunião com o Procon está marcada para o dia 23 de setembro, com possibilidade de acionar o Ministério Público. A expectativa é repetir o precedente do Maranhão, onde a promotoria estadual conseguiu impedir o Bradesco de encerrar agências que eram as únicas de seus municípios.
No campo político, o Sindicato já organizou audiência pública na Assembleia Legislativa da Bahia (ALBA), por meio do deputado Bobô (PCdoB), bem como tem agendado nas Câmaras do interior. Ainda há em pauta a possibilidade da Câmara dos Deputados, por meio da Comissão de Defesa do Consumidor, também pautar o assunto.
Em maio, o Sindicato dos Bancários já se reuniram com o Procon.
Posicionamento dos bancos
Procurado pela reportagem, a assessoria do Bradesco, principal responsável por esse movimento atual, disse que não comenta processos sob judice. Apesar disso, o Plano Estratégico da empresa anunciado no 4º trimestre de 2023, prevê “otimização da rede de agências”, aceleração da digitalização e fortalecimento dos canais digitais e do banco Next.
Na prática, porém, a estratégia de eficiência e rentabilidade entra em contradição com os princípios defendidos pelo próprio banco, que lista o “atendimento humanizado” como sua maior força. O resultado, segundo o Sindicato dos Bancários, é um processo de desumanização, precarização e redução de acesso, sobretudo em áreas rurais ou com baixo nível de inclusão digital.
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