Queima de fogos no Ano-Novo causa sofrimento a autistas e idosos; entenda

A queima de fogos de artifício na virada do ano pode causar impactos negativos a grupos mais sensíveis ao ruído, como autistas, idosos e bebês

Por Bruna Castelo Branco.

Fonte: Alana Gandra - Agência Brasil

A queima de fogos de artifício na virada do ano, tradição em diversas cidades brasileiras, pode causar impactos negativos a grupos mais sensíveis ao ruído, como pessoas com Transtorno do Espectro Autista (TEA), idosos e crianças. Especialistas apontam que os efeitos do barulho intenso vão além do momento da celebração e podem provocar alterações comportamentais, prejuízos ao sono e sofrimento prolongado. As informações são da Agência Brasil.

O neuropediatra e professor da Escola de Medicina e Ciências da Vida da Pontifícia Universidade Católica do Paraná (PUCPR), Anderson Nitsche, explica que pessoas no espectro autista apresentam maior sensibilidade auditiva, o que pode desencadear reações que se estendem por dias após os festejos.

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A queima de fogos de artifício na virada do ano pode causar impactos negativos a grupos mais sensíveis ao ruído, como autistas, idosos e bebês. | Foto: Ilustrativa/Pexels

“As crianças e pessoas autistas têm uma sensibilidade maior ao som e isso causa uma perturbação momentânea, mas que pode até durar por mais tempo, gerando sofrimento de insônia durante alguns dias”, afirma o professor.

Segundo os especialistas, o barulho dos fogos pode levar pessoas com TEA a crises sensoriais, caracterizadas por ansiedade, tentativa de fuga do ambiente e, em alguns casos, comportamentos agressivos contra si ou contra terceiros.

A neurologista e diretora clínica do Hospital INC (Instituto de Neurologia de Curitiba), Vanessa Rizelio, explica que pessoas com TEA têm dificuldade em interpretar o ruído como parte de uma comemoração. Para elas, o estímulo sonoro prolongado é percebido como algo desagradável.

Segundo os especialistas, o barulho dos fogos pode levar pessoas com TEA a crises sensoriais. | Foto: Ilustrativa/Pexels

“O cérebro deles entende como uma coisa negativa, algo que está gerando um desconforto e a reação vai ser sair daquela situação. Muitas vezes, isso se vai manifestar como ansiedade, irritabilidade, fora o prejuízo depois no sono que pode impactar até o dia seguinte”, destaca Vanessa.

A neuropediatra Solange Vianna Dultra, fundadora da Associação de Neurologia do Estado do Rio de Janeiro (ANERJ), acrescenta que o impacto do ruído também se manifesta fisicamente.

“O coração dá uma descarga de adrenalina, acelera, a pressão sobe. Eles não conseguem entender que é uma festa. É como se estivessem no meio de um tiroteio. Algumas pessoas se desregulam até na hora de recreio na escola por causa do barulho”, explicou a especialista.

Diante desses efeitos, algumas cidades brasileiras têm adotado alternativas à queima de fogos com estampido em celebrações públicas, como fogos silenciosos, espetáculos de luzes e apresentações com drones. Em alguns municípios, há legislações que proíbem artefatos sonoros.

Algumas cidades brasileiras têm adotado alternativas à queima de fogos com estampido em celebrações públicas. | Foto: Ilustrativa/Pexels

A psicóloga Ana Maria Nascimento, especialista em neuropsicologia e saúde mental, avalia que essas alternativas preservam o caráter coletivo das festas e ampliam a participação social. Para ela, insistir no uso de fogos ruidosos, diante da existência de opções menos invasivas, demonstra falta de sensibilidade.

“Celebrar pressupõe convivência. Quando a alegria de uns depende do sofrimento de outros, é legítimo questionar se essa tradição ainda faz sentido”.

Solange Vianna Dultra ressalta que o impacto do barulho não se restringe à pessoa com TEA, mas afeta toda a família. Ela observa que, no caso dos fogos silenciosos, a luminosidade pode ser contornada com medidas simples.

“A neuropediatra Solange Vianna destaca que o sofrimento causado pelo ruído dos fogos não é só para a criança autista, mas para toda a família. Ela ressalta que, no caso de fogos silenciosos, a luminosidade não é um problema, porque basta a família manter a criança com TEA longe de janelas.”

Anderson Nitsche reforça a importância de adaptação das tradições para ampliar a inclusão social.

“Acolher, entender e perceber que há pessoas que sofrem com determinadas tradições é tão importante quanto as próprias vivências”, aponta.

De acordo com o professor, o autismo tem prevalência mundial estimada em cerca de 3% da população, e nem todas as pessoas no espectro apresentam alterações sensoriais auditivas. Ainda assim, ele destaca a empatia como elemento central do debate.

“O processo de inclusão passa pela ideia de entender que há pessoas que são diferentes da gente e que, muitas vezes, a minha liberdade fere a liberdade do outro e gera nelas um sofrimento desnecessário”.

O autismo tem prevalência mundial estimada em cerca de 3% da população. | Foto: Ilustrativa/Pexels

Além das pessoas com TEA, idosos também estão entre os grupos mais afetados pelos ruídos intensos, especialmente aqueles com demência. Segundo Vanessa Rizelio, o barulho pode desencadear surtos, delírios e alucinações, além de prejudicar o sono e o funcionamento cognitivo no dia seguinte.

Bebês também sofrem impactos negativos, uma vez que necessitam de períodos mais longos de sono.

“Se o bebê passa a ser despertado por esse ruído ou não consegue adormecer, isso traz prejuízos. Porque os fogos começam a ser soltados muitas horas antes e o ruído vai gradualmente aumentando até chegar ao ápice, à meia-noite", lembra Vanessa.

Como forma de minimizar os efeitos, a neurologista cita o uso de sons contínuos, como ruído branco, e abafadores de ouvido, no caso de crianças maiores.

Vanessa Rizelio também critica a falta de fiscalização em relação às leis que proíbem fogos barulhentos em algumas cidades.

“Em Curitiba, por exemplo, essa lei já está em vigência há mais de cinco anos e nós continuamos ouvindo muitos fogos de artifício com barulhos intensos sendo soltos em comemorações, principalmente no ano novo”. Ela defende mais rigor para “minimizar o impacto de um comportamento humano que já deveria ter sido mudado há muito tempo”, afirma.

Queima de fogos em Salvador

A queima de fogos em Salvador na noite de 31 de dezembro contará com mais de 10 minutos de espetáculo pirotécnico e será realizada em pelo menos 22 pontos espalhados pela capital baiana e pelas ilhas da Baía de Todos-os-Santos. Um dos principais locais será a Arena O Canto da Cidade, na Boca do Rio, onde acontece o Festival Virada Salvador 2026.

Na Arena, a contagem regressiva para a chegada de 2026 será conduzida por Ivete SangaloConfira, aqui, programação completa do Festival Virada Salvador.

A queima de fogos em Salvador na noite de 31 de dezembro contará com mais de 10 minutos de espetáculo pirotécnico. | Foto: Alexandre Dias/Saltur

Além da Boca do Rio, a queima de fogos em Salvador está prevista para os seguintes pontos: Farol da Barra, Rio Vermelho, Amaralina (dois locais), Jardim de Alah, Patamares, Itapuã, Boa Viagem, Ribeira (Cabana do Bogary), Santo Antônio Além do Carmo, Cajazeiras X, Periperi, São Tomé de Paripe, Pernambués, Ilha de Bom Jesus dos Passos, Ilha de Maré (Itamoabo, Santana, Praia Grande, Bananeiras e Botelho) e Ilha dos Frades (Paramana).

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