Alunos baianos criam tecnologia para transportar urnas funerárias indígenas
Solução de transporte para urnas funerárias indígenas apoia pesquisas arqueológicas e disputa torneio de robótica em Salvador nos dias 12 e 13 de dezembro
Por Júlia Naomi.
Uma equipe de estudantes da Escola SESI Candeias, Bahia, criou uma tecnologia para auxiliar estudiosos a transportar urnas funerárias indígenas com segurança, do sítio arqueológico até o laboratório de pesquisa. O projeto irá competir no Torneio Regional de Robótica FIRST LEGO League, que ocorre em Salvador, no II Festival SESI de Ciência, Tecnologia e Inovação (CTI), nos dias 12 e 13 de dezembro.

A competição consiste no desenvolvimento e apresentação de projetos de inovação e robôs de Lego relacionados à proposta de cada edição. Em 2025, o tema "Unearthed", ou "desenterrado" desafia 403 estudantes de 9 a 15 anos de idade, distribuídos entre 56 equipes de dois a dez componentes a solucionar problemas que arqueólogos enfrentam em seu dia a dia de trabalho.
Em Candeias, na Região Metropolitana de Salvador, a equipe RoboLife se atentou à dificuldade existente no transporte de urnas funerárias indígenas de tradição arqueológica Aratu, que podem chegar a 1,5 metro de altura e pesar entre 125 e 250 quilos.
Clóvis Campagnolo, técnico e professor do grupo, conta que o problema foi identificado a partir de leitura de artigos, além de visitas aos cursos de mestrado e doutorado em arqueologia da Universidade Federal do Recôncavo Baiano (UFRB), no campus Cachoeira e São Félix.

"Nessas três visitas, os estudantes identificaram que um dos problemas enfrentados pelos arqueólogos que trabalham em campo é quando eles localizam urnas funerárias indígenas, pois elas são muito grandes, pesadas. Não existia um equipamento para transporte e aquilo inquietou os estudantes", relata.
Urnas funerárias indígenas guardam séculos de memória
Esses grupos indígenas dominaram a Bahia por 500 anos, entre os séculos IX e XIV, e têm sua memória abrigada em pelo menos 80 sítios arqueológicos, de acordo com o grupo de pesquisa Recôncavo Arqueológico, da UFRB.
"Esses sítios localizam-se em diversos locais do nosso estado e se estendem por outros estados também. Então, qualquer arqueólogo que sentia a necessidade de localizar uma urna funerária indígena vai poder utilizar esse equipamento como uma forma de transporte mais segura para tal", destaca.

A escavação e estudo das urnas, referidas pelo grupo como "cápsulas do tempo" de povos que viviam da agricultura de subsistência e da caça, além de produzir cerâmicas, visa conhecer seu conteúdo cultural, obter amostras de DNA e datação radiocarbônica, além da restauração para exposição no Laboratório de Documentação e Arqueologia do Curso de Museologia (LADA) da universidade.
Parceria entre escola e pesquisa pública
A relação de apoio mútuo entre a UFRB e a RoboLife não se limitou às visitas. A universidade proporcionou à equipe um curso online de 10 semanas em Arqueologia Básica, além de orientações quase diárias, ao longo de todo o desenvolvimento da "UrnaLife". O Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (IPHAN) também contribuiu com o processo.
"Quando os estudantes criam uma solução, eles levam aos profissionais destes locais, tanto do IPHAN como da UFRB, para que eles possam sugerir melhorias dentro daquela solução. Então, eles vão trazendo a necessidade real do campo e os estudantes vão aperfeiçoando conforme as necessidades dos profissionais", detalha Campagnolo.

Desse modo, o trabalho de pesquisa resultou na criação de um equipamento facilmente montável e desmontável, ao considerar que muitos sítios arqueológicos são distantes até mesmo de estradas. O UrnaLife é composto por 16 partes de perfis de alumínio desmontáveis, unidos por parafusos com porcas borboleta.
Para todas as equipes, a contagem regressiva para o desenvolvimento de projetos começou no dia 25 de agosto, quando a organização divulgou o tema oficial da temporada. Assim, foram pouco mais de três meses até a apresentação das versões finais.
Etapas de avaliação da FIRST LEGO League
Além do Projeto de Inovação, que é aplicado em problemas do mundo real, o torneio FIRST LEGO League avalia as equipes concorrentes pela produção de um robô autoral, feito a partir de peças de Lego. A etapa envolve de conceitos de engenharia de montagem e programação, avaliados nas áreas de Design de Robô e segundo o desempenho na Arena.
Projeto de Inovação
Resolução de problemas do mundo real relacionados à temática da temporada
Design de Robô
Apresentação técnica do robô, detalhando com quais conceitos e técnicas os anexos e acessórios do robô foram construídos. Além disso, apresenta-se a trajetória de desenvolvimento do projeto e sua evolução.
Arena
Cada robô é colocado em uma arena em que deve cumprir o máximo das 15 missões relacionadas à temática de arqueologia, ao longo de no máximo 2 minutos e 30 segundos.
Core Values
Avalia as equipes segundo a vivência de valores pregados pela competição: descoberta, inovação, impacto, trabalho em equipe e diversão.
Equipe RoboLife competiu na edição nacional do FFL
Veteranos na competição, os integrantes da RoboLife têm idade média de 15 anos participam de sua terceira temporada na First Lego League. Em 2024, foram classificados para a FLL Nacional, na temática "Submerged", ou submersa, relacionada à solução de problemas no oceano.

"A gente estudou os problemas enfrentados pelos recifes de corais. Os meninos descobriram que os recifes de corais, que eles são localizados apenas em uma quantidade muito pequena no planeta, apenas 1% dos oceanos possuem áreas de recifes de corais, e eles abrigam cerca de 25% de toda a vida marinha", conta Clóvis.
De acordo com professor, quando um pescador atraca em regiões de corais, a âncora do barco causa uma degradação que leva anos para ser revertida. Por isso, a RoboLife desenvolveu uma boia de demarcação, com o apoio do curso de oceanografia da Universidade Federal da Bahia (UFBA) e do Parque Marinho da Barra.

"Foi um projeto que a gente conseguiu desenvolver com um custo relativamente baixo, comparado ao que você tem de mercado de boias náuticas. A gente desenvolveu uma boia de 80 mil reais, e essa boia, ela colocada ao redor dos recifes, ela forma um quadrante. As boias se comunicam e monitoram a movimentação nas regiões", detalha. A proposta é que as informações de monitoramento sejam enviadas à Marinha.
Com esse projeto, a equipe alcançou a 27° posição no ranking nacional da Arena.
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