Tecnologia na Bahia: startups, inovações e tendências

O ecossistema de inovação e tecnologia da Bahia combina a expertise das universidades, o apoio de investidores e polos de desenvolvimento e a criatividade empreendedora de 724 startups, que atuam em diferentes setores e mercados. Desse total, 302 estão sediadas em Salvador, segundo dados da Associação Baiana de Startups (AbaStartups).

Com 2,6% das iniciativas do Brasil, a Bahia encontra-se em primeiro lugar no Nordeste e em 7º lugar no ranking nacional de estados com o maior número startups, nome dado iniciativas empreendedoras de base inovadora, com modelo de negócios escalável e que trabalham em condições de extrema incerteza. São Paulo figura em 1º lugar no Brasil, com 45%, seguido de Minas Gerais (7,9%) e Santa Catarina (7,5%).

Os dados são do pelo Mapeamento do Ecossistema Brasileiro de Startups 2025, elaborado pela Associação Brasileira de Startups (ABS). A pesquisa mapeou 3.650 startups do país, em 424 cidades de todos os estados brasileiros, entre os meses de julho e setembro de 2025, a partir da atualização da base de dados da associação e do envio voluntário de relatórios por novas empresas participantes.

Da amostra de 95 startups baianas mapeadas, mais da metade (62,1%) se concentra em Salvador. Em seguida, Feira de Santana (11,6%), Lauro de Freitas (5,3%), Barreiras e Vitória da Conquista (ambas com 3,2%) completam o top 5 de cidades com maior número de iniciativas.

A maior parte das startups baianas presentes no mapeamento (37,4%) adotam o modelo de negócios Software as a Service (SaaS), uma forma de disponibilizar aplicações pela internet, como um serviço por assinatura. 

Em segundo lugar, destaca-se o modelo taxa sobre transação (12,1%), em que a empresa cobra um percentual para cada vez que uma transação realizada em sua plataforma. Na sequeência estão os clubes de assinatura recorrente (11%).

Esses percentuais reforçam a análise da especialista em inovação do Parque Tecnológico da Bahia, Katya Perazzo, em entrevista ao Aratu On, publicada em 12 de novembro de 2025. Segundo Perazzo, as startups baianas se destacam sobretudo nos serviços de digitalização no modelo Business to Busines (B2B), ao apoiar empresas tradicionais na modernização de seus processos.

Embora o Sudeste mantenha a maior concentração de startups, o mapeamento da ABS indica o fortalecimento do ecossistema em outras regiões do país. Em relação ao ano anterior, o número de startups no Nordeste cresceu aproximadamente 11%. Além disso, a participação da região Norte avançou de 4,6%, em 2024, para 5,4%.

Mateus Couto, diretor de governança e inovação aberta da Associação Baiana de Startups (ABAS), considera que a Bahia está bem posicionada no cenário nacional em relação ao número de empreendimentos, mas pondera que a maioria das iniciativas está em estágios iniciais de desenvolvimento.

"A gente tem uma grande concentração de startups na Bahia, isso é fato, um número muito bom, se a gente for pensar em cenário nacional. Só que as startups ainda estão em níveis basilares, ainda não estão tão maduras", descreve Couto, que é também fundador da empresa de soluções em tecnologia Solvum.

Ele exemplifica que o estado ainda não possui startups que ultrapassam, por exemplo, dois a quatro milhões em faturamento anual. "Então, a gente precisa aumentar a densidade de maturidade de startups dentro da Bahia. Isso, não somente a nível de estrutura interna da organização das startups, como também de clientes e afins", pondera.

Mateus Couto analisa que este cenário ainda incipiente reflete o não uso de todo o potencial de inovação por parte do setor privado, tanto na Bahia, quanto no Brasil. "96% dos líderes das 150 mil empresas nacionais de lucro real [com faturamento de 100 milhões por ano, segundo Couto], não conhecem de maneira aprofundada sobre inovação e tecnologia, então a gente tem um gap intelectual muito grande", afirma.

Segundo o especialista, nos outros 4% das grandes empresas, as iniciativas de inovação ainda são empregadas de forma basilar e pouco estratégica, de forma que faltam diretrizes firmes para a inovação.

"Esse problema da galera não saber sobre inovação de tecnologia também faz com que as empresas não consumam as novidades que as startups têm para trazer", explica. Como consequência do funcionamento do mercado, Couto descreve que existe uma evasão de empresas de soluções inovadoras da Bahia, que se migram tanto para o Sudeste quanto para o Sul.

O diretor de governança e inovação aberta da ABAS afirma que o Brasil possui uma das legislações mais avançadas do mundo em compras públicas de inovação, com instrumentos específicos que permitem a contratação de soluções inovadoras sem a exigência de licitação. Apesar disso, essas ferramentas ainda são subutilizadas, principalmente devido ao desconhecimento por parte dos atores envolvidos.

Assim, Couto defende que é necessário trabalhar a formação de base de inovação, por meio da conscientização para o entendimento de programas e incentivos, assim como quais recursos podem ser pleiteados para este o amadurecimento da inovação "dentro da frente Nordeste".

"Então o setor público vai precisar estar coladíssimo na iniciativa privada para que ele não somente receba aporte de inovação, mas para que também encomende desenvolvimentos que aumentem a produtividade pública e a eficiência de seus gastos", declara.

Nesse sentido, a Secretaria de Ciência, Tecnologia e Inovação (Secti) da Bahia afirma que o setor público atua como demandante de inovação, ao lançar chamadas públicas voltadas à modernização da gestão pública e à solução de desafios concretos, estimulando o desenvolvimento de tecnologias e criando um ambiente favorável à adoção de novas soluções.

Fundadores de startups baianas comentam perspectivas de empreendedorismo na Bahia

Para acelerar o crescimento de iniciativas de inovação na Bahia, Victor Cavalcanti, CEO startup soteropolitana do segmento de transportes e logística Infleet, destaca a importância de promover um ambiente regulatório mais ágil, com maior acesso a crédito para inovação, além de ampliar os incentivos fiscais e programas de subvenção que estimulem o crescimento do ecossistema.

Além disso, Cavalcanti defende o investimento na formação de lideranças técnicas por meio de programas de engenharia de produto, inteligência artificial e bolsas em parceria com empresas, uma vez que considera que o estado oferece custos competitivos e um mercado local relevante nos setores de logística, energia e indústria.

O CEO também observa que a Bahia possui uma base de talentos forte, formada a partir de universidades e centros técnicos. Nesse sentido, a Universidade Federal da Bahia (UFBA), por exemplo, ocupa o 14° lugar no Ranking Universitário da Folha (2025), apresentando destaques nos critérios de avaliação sobre Mercado (7º lugar nacional) e Inovação, em que subiu da 31° posição em 2024 para 22° em 2025.

Já Carlos Ivan, cofundador do Hiperbanco, startup soteropolitana que oferece uma infraestrutura bancária completa via interface de programação de aplicações (APIs), considera que a Bahia vive um momento promissor de transformação empreendedora, com o surgimento de novas startups e o fortalecimento de iniciativas de inovação em diversos setores.

"Nos últimos anos, temos observado um crescimento consistente no número de empreendedores tecnológicos, apoiados por programas de aceleração, hubs de inovação e universidades locais. Para o Hiperbanco, que nasceu e cresceu nesse ambiente, a perspectiva é de expansão contínua, com a Bahia se consolidando como um polo de referência em inovação e tecnologia no Nordeste", observa.

Léia Moreira, co-CEO startup soteropolitana Capim Pimenta Cosméticos Naturais, assim como o cofundador do Hiperbanco, acredita que o crescimento do ecossistema de inovação pode ser impulsionado com maior acesso a capital de investimento para startups em estágio inicial.

Ambos defendem a ampliação da cooperação entre os diferentes agentes do setor, seja por meio da ampliação do acesso a mentorias, da realização de eventos de conexão entre startups, investidores e grandes empresas ou da expansão de parcerias com universidades, governo e empresas privadas.

Rodrigo Polkowski, sócio fundador da TRL9.tech, empresa de soluções tecnológicas e sustentáveis para redução de custos na indústria, destaca a importância da possibilidade de firmar parcerias com a instituições como o SENAI Cimatec, "parceiro técnico de grande relevância" e o Parque Tecnológico da Bahia, "que cria condições favoráveis para o avanço de empresas de base tecnológica no estado".

"Acreditamos que esse ecossistema pode ser ainda mais impulsionado por meio de parcerias interestaduais e pela ampliação do acesso a horas de laboratório para as startups [nos hubs de inovação], o que certamente aceleraria seus resultados", pondera.

As reflexões acima foram concedidas para a matéria Startups de Salvador que estão se destacando no Brasil e no mundo, publicada pelo Aratu On em 12 de novembro de 2025. Além das empresas mencionadas, existem diversas outras iniciativas em diversos segmentos espalhadas pelo estado.

Nas cidades mencionadas como integrantes do top 5 com maior número de startups na Bahia, segundo o Mapeamento do Ecossistema Brasileiro de Startups 2025, constam:

Cidades que se destacam com maior número de Startups na Bahia, segundo a mapeamento da ABS

Feira de Santana

Lauro de Freitas

Barreiras

Vitória da Conquista

Iniciativas públicas e privadas para impulsionar a tecnologia na Bahia

Em relação às iniciativas de incentivo à inovação no setor privado, Mateus Couto cita a criação de Núcleos de Inovação e Tecnologia (NITs) em universidades, que, segundo ele, ainda atuam em estágios iniciais. 

Além disso, o diretor de inovação aberta da ABAS menciona a atuação do Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (Sebrae). A instituição promove o desenvolvimento de micro e pequenas empresas por meio de programas de capacitação, acesso ao crédito e à inovação, estímulo ao associativismo, incentivo a educação empreendedora, feiras e rodadas de negócios.

Já no setor público, as principais ações para impulsionar a tecnologia e a inovação na Bahia são conduzidas de forma integrada pela Secretaria de Ciência, Tecnologia e Inovação (Secti) e pela Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado da Bahia (Fapesb).

Elas envolvem a criação de espaços colaborativos, programas de inclusão digital, apoio financeiro a projetos de pesquisa e desenvolvimento. Dentre as iniciativas, a Secti destaca:

Parque Tecnológico da Bahia

O Parque Tecnológico da Bahia, criado em 2012, funciona como um hub de inovação, ao integrar empresas, universidades, centros de pesquisa e startups, com foco estratégico em biotecnologia, energias renováveis e tecnologias da informação e comunicação, gerando empregos qualificados e atraindo investimentos.

Espaços Colaborar

A rede de Espaços Colaborar oferece uma infraestrutura de coworking e apoio a empreendedores e startups em 26 municípios da Bahia.

Programa INOVATEC

Apoia financeiramente projetos de Pesquisa, Desenvolvimento e Inovação (PD&I) em empresas e Instituições Científicas e Tecnológicas, estimulando parcerias estratégicas e a atração de investimentos privados.

Bahia Games

A política de fomento à economia criativa e de jogos digitais inclui incubadoras, cursos gratuitos e editais para fortalecer a indústria de jogos, audiovisual e realidade imersiva. 

Em julho de 2025, a iniciativa lançou, em parceria com o Sebrae, a Trilha de Aceleração de Negócios da Indústria de Games da Bahia, voltada ao apoio a estúdios independentes e startups do setor. O programa oferece suporte técnico, mentorias especializadas, formação empreendedora, acesso a mercados e preparação para a captação de investimentos.

Programa BAH.IA

Rede de Inteligência Artificial, que promove formação e capacitação em IA por meio de parcerias entre universidades, institutos e empresas, preparando o estado para tecnologias habilitadoras.

Startup Expand 

Promove atividades de mapeamento, análise, classificação de maturidade do ecossistema local de inovação, bem como implementa ações integradas para fortalecer startups e pequenos negócios em diferentes regiões do estado.

Espaços Maker

Ambientes de experimentação e prototipagem em escolas da Bahia. A Secretaria de Ciência, Tecnologia e Inovação destaca o Espaço Fazer do IFBA Camaçari, considerado o maior do Norte e Nordeste. A unidade recebeu investimento de R$ 1 milhão e conta com infraestrutura avançada, que inclui 20 impressoras 3D, kits de robótica e CNC a laser. 

Em 2026, a secretaria prevê a implantação de novos Espaços Maker em Jequié e Feira de Santana.

Conecta Bahia

Com o objetivo de ampliar a conectividade e o acesso a serviços digitais, o programa Conecta Bahia já implantou 339 pontos de Wi-Fi gratuito em 180 municípios. A previsão, de acordo com a Secti, é que 1.500 novos pontos sejam implantados até 2027, com foco em comunidades rurais, quilombolas e indígenas. 

Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado da Bahia (Fapesb)

Exerce o papel de fomentar a ciência, a tecnologia e a inovação por meio de editais e programas de apoio. Uma das principais iniciativas de 2025, de acordo com a Secti, foi a implementação do Programa Centelha 3, voltado ao estímulo ao empreendedorismo inovador e à criação de startups de base tecnológica, fortalecendo o ecossistema estadual de inovação.

Na área de transformação digital do setor público, a Fundação lançou um edital em parceria com a Secretaria da Administração do Estado (Saeb), com investimento de R$ 7,8 milhões, para o desenvolvimento de soluções tecnológicas voltadas à modernização da gestão dos municípios.

A Fapesb também abriu uma chamada pública com a Procuradoria Geral do Estado (PGE-BA) para projetos em inteligência artificial, com foco na inovação e na eficiência dos serviços públicos.

Além disso, investiu na internacionalização da ciência e da inovação, por meio de editais como o MOVE e o PUBLI, que apoiam a mobilidade de pesquisadores, a participação em eventos científicos e a publicação de pesquisas, ampliando a inserção da Bahia em redes nacionais e internacionais.

Eventos e feiras de tecnologia na Bahia

Com o objetivo de fortalecer o ecossistema de inovação, eventos de tecnologia em Salvador e no interior da Bahia reúnem startups, empresas, investidores, palestrantes, especialistas em negócios e interessados em ambientes que favorecem a troca de conhecimento, a atualização profissional e a criação de novas conexões.

Alguns desses encontros, que ampliam a visibilidade de produtos, serviços e soluções inovadoras capazes de atender a diferentes necessidades do mercado, já integram o calendário da capital baiana e podem ser aguardados em 2026. 

Bahia Tech Experience

Organizado pela Secretaria de Ciência, Tecnologia e Inovação (Secti) e pelo Sebrae Bahia, com um investimento de R$15 milhões, o Bahia Tech Experience é um evento gratuito que promove conexões estratégicas e oportunidades para negócios em diferentes estágios de desenvolvimento. 

Organizado pela Secretaria de Ciência, Tecnologia e Inovação (Secti) e pelo Sebrae Bahia, com um investimento de R$15 milhões, o Bahia Tech Experience é um evento gratuito que promove conexões estratégicas e oportunidades para negócios em diferentes estágios de desenvolvimento. 

A edição de 2025 reuniu cerca de 7 mil participantes, mais de 150 startups, gerando R$ 11,7 milhões em negócios. A programação inclui  palestras, workshops, batalhas de pitch, experiências interativas, arena de jogos, além de capacitações em áreas como inteligência artificial, blockchain, biotecnologia, computação quântica, agritechs, govtechs, energia, empreendedorismo feminino e impacto social.

Fórum do Comércio

O Fórum do Comércio é um encontro anual que reúne empresários, lideranças políticas, representantes de instituições públicas e privadas e especialistas para debater temas ligados ao desenvolvimento do setor terciário na Bahia.

Realizado pelo Sebrae e pelo Sistema Comércio Bahia, o evento promove palestras, oficinas e discussões sobre inovação, sustentabilidade, empreendedorismo e transformação digital, funcionando como um espaço de atualização, networking e fortalecimento do ambiente de negócios em Salvador. A edição de 2025 foi realizada no segundo semestre.

O evento é gratuito e aberto ao público, com inscrições disponíveis próximas à data de realização.

Feira da Indústria da Bahia - Index Bahia

A feira da indústria Index Bahia é um evento voltado ao fortalecimento do setor industrial do estado que reúne empresas, autoridades, profissionais e visitantes em um ambiente dedicado a negócios, inovação, capacitação e desenvolvimento econômico.

Consolidado como uma das principais vitrines da força da indústria baiana, o encontro promove rodadas de negócios e debates estratégicos sobre temas como política industrial, sustentabilidade, transição energética e ESG, além de exposições, palestras e workshops.

A iniciativa da Federação das Indústrias do Estado da Bahia (FIEB) em parceria com o Sebrae Bahia tem apoio do governo do estado e visa promover oportunidades que impulsionem o crescimento do setor. Em 2025, o evento conectou 85 fornecedores de materiais e serviços a 24 grandes compradores e movimentou aproximadamente R$ 98 milhões em negócios.

O Index Bahia 2026 ocorre entre os dias 6 a 8 de maio. O evento é gratuito e aberto ao público, com inscrições disponíveis próximas à data de realização.

e-Agro

A e-agro é uma feira anual que reúne produtores rurais, consumidores, empresas e instituições na capital baiana, a fim de apresentar serviços e soluções voltadas ao agronegócio. A programação inclui palestras técnicas, oficinas, rodadas de negócios e espaços temáticos dedicados a diferentes segmentos da produção agrícola e pecuária.

A feira também oferece áreas para comercialização de alimentos, equipamentos e máquinas, além de atividades culturais e gastronômicas que aproximam o público urbano das práticas e dos produtos do campo.

Meetup Summit

Além destes eventos na capital baiana, o Meetup Summit é uma iniciativa que reúne empresários, especialistas e representantes de comunidades de tecnologia em diferentes municípios da Bahia, de forma itinerante.

A ação, realizada pelo Sebrae, em parceria com a Secti, visa descentralizar a inovação no estado, por meio de debates sobre tendências de mercado, compartilhamento de experiências práticas e apresentação de estratégias voltadas ao crescimento sustentável e à geração de oportunidades, conforme o contexto de cada região.

Em 2025, ocorreram edições em Feira de Santana, Teixeira de Freitas, Eunápolis, Porto Seguro, Guanambi, Jequié, Vitória da Conquista, Barreiras e Luís Eduardo Magalhães.