Festa de Santa Bárbara em Salvador: uma herança de fé e sincretismo na Bahia

Realizada em 4 de dezembro, a Festa de Santa Bárbara marca o início das celebrações religiosas e populares da Bahia

Por Bruna Castelo Branco.

Realizada em 4 de dezembro, a Festa de Santa Bárbara marca o início das celebrações religiosas e populares da Bahia, que se estendem até o Carnaval. O evento, realizado no Centro Histórico de Salvador, combina fé, sincretismo religioso e cultura afro-brasileira, especialmente as tradições ligadas a Iansã, orixá dos ventos e tempestades.

Além da Festa de Santa Bárbara, Salvador é marcada pela Lavagem do Bonfim, maior celebração religiosa da Bahia. Você conhece a história do cortejo?

Realizada em 4 de dezembro, a Festa de Santa Bárbara marca o início das celebrações religiosas e populares da Bahia. | Foto: Bruno Concha/Secom PMS

Desde a madrugada do dia 4 de dezembro, devotos vestidos de vermelho e branco lotam o Largo do Pelourinho para acompanhar a missa campal em homenagem à padroeira do Corpo de Bombeiros, celebrada às 8h. Após a cerimônia, a imagem da santa segue em procissão pelas ruas do Centro Histórico, passando por locais como a Praça da Sé, o Terreiro de Jesus e o quartel do Corpo de Bombeiros, onde ocorre uma saudação especial.

Durante o cortejo, pratos típicos como caruru e acarajé são distribuídos em pontos simbólicos, como o Mercado de Santa Bárbara e as sedes de grupos culturais, a exemplo do Afoxé Filhos de Korin Efan.

Desde as primeiras horas do dia, devotos vestidos de vermelho e branco lotam o Largo do Pelourinho. | Foto: Bruno Concha/Secom PMS

Origem da festa e história de Bárbara

A devoção a Santa Bárbara em Salvador remonta ao século XVII, quando uma imagem trazida por portugueses foi entronizada no antigo Morgado de Santa Bárbara, no bairro do Comércio. Ao longo dos séculos, o festejo mudou de local, acompanhando o crescimento urbano da cidade, até se consolidar no Pelourinho.

Padroeira dos bombeiros, mineiros e artilheiros, Santa Bárbara é também invocada contra raios e tempestades.

Bárbara, que posteriormente se tornou conhecida como Santa Bárbara, nasceu no século III em Nicomédia, na região da Bitínia, na Turquia. Era filha única de Dióscoro, membro da nobreza local.

Padroeira dos bombeiros, mineiros e artilheiros, Santa Bárbara é também invocada contra raios e tempestades. | Foto: Bruno Concha/Secom PMS

Para protegê-la da sociedade, Dióscoro a manteve isolada em uma torre, sob a supervisão de tutores responsáveis por educá-la. Com o tempo, Bárbara passou a questionar as convenções religiosas e refletir sobre a existência de um único Deus. Ela também se opôs ao casamento, contrariando o pai.

Ao sair do confinamento, Bárbara conheceu a população da cidade e aprofundou sua compreensão da mensagem de Jesus Cristo, convertendo-se ao Cristianismo. Ao perceber que a filha se mantinha firme na fé cristã, Dióscoro denunciou-a ao prefeito local.

Bárbara foi submetida a torturas em praça pública, com o objetivo de fazê-la renegar a fé, mas permaneceu inabalável e acabou sendo executada por decapitação. Ela foi morta em 4 de dezembro, data em que, hoje, é celebrado o Dia de Santa Bárbara.

A devoção a Santa Bárbara em Salvador remonta ao século XVII, quando uma imagem trazida por portugueses foi entronizada no antigo Morgado de Santa Bárbara. | Foto: Bruno Concha/Secom PMS

Segundo a tradição católica, no momento da morte da religiosa, um raio cruzou o céu. Dióscoro, pai da jovem, foi atingido por um raio e morreu em seguida. A partir desse episódio, Santa Bárbara passou a ser considerada protetora contra relâmpagos e tempestades, além de padroeira de artilheiros, mineradores e trabalhadores que lidam com fogo.

Sincretismo

O sincretismo religioso é uma das principais marcas da festa. Muitos fiéis associam Santa Bárbara à orixá Iansã, e durante a procissão são comuns saudações como “Saravá”, “Oiá” e “Epà Hey”.

Conhecida como senhora dos ventos, das tempestades e guardiã do mundo dos mortos, Iansã é uma das orixás femininas mais populares das religiões de matriz africana. | Foto: Bruno Concha/Secom PMS

Conhecida como senhora dos ventos, das tempestades e guardiã do mundo dos mortos, Iansã é uma das orixás femininas mais populares das religiões de matriz africana, como Candomblé e Umbanda, reverenciada no Brasil e em países da África sob o nome de Oyá. Em Salvador, o Dia de Santa Bárbara é também Dia de Iansã, celebrado em uma festa marcada por muito sincretismo e união pacífica entre as religiões que a cultuam.

Reconhecida como Patrimônio Imaterial da Bahia desde 2008, a Festa de Santa Bárbara é considerada um símbolo de fé e resistência no estado.

Durante o cortejo, pratos típicos como caruru e acarajé são distribuídos em pontos simbólicos. | Foto: Bruno Concha/Secom PMS

Roteiro da festa

Principais locais:

- Igreja Nossa Senhora do Rosário dos Pretos: ponto inicial, onde ocorre a missa.

- Centro Histórico: trajeto da procissão.

- Largo do Pelourinho: palco principal, com a missa campal e apresentações musicais.

Programação:

- Alvorada festiva, salva de clarins e missa campal no Largo do Pelourinho pela manhã;

- Procissão pelas ruas do Centro Histórico após a missa;

- Shows e atrações musicais à tarde no Largo do Pelourinho e em espaços como o Largo Pedro Archanjo;

- Celebrações paralelas na Igreja de Santa Bárbara, no bairro da Liberdade, com missas e uma procissão local.

Reconhecida como Patrimônio Imaterial da Bahia desde 2008, a Festa de Santa Bárbara é considerada um símbolo de fé e resistência. | Foto: Bruno Concha/Secom PMS

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