Ex-vereador baiano é condenado a 34 anos por matar jovem grávida
Ex-vereador baiano não aceitava que a vítima revelasse que ele era o pai da criança, tentando preservar seu “grande prestígio na cidade”
O ex-vereador baiano Valdinei da Silva Caires, conhecido como Bô, foi condenado a 34 anos e 24 dias de prisão em regime fechado pelo desaparecimento e morte de Beatriz Pires da Silva, de 25 anos, que estava grávida de seis meses. A decisão ocorreu após julgamento realizado na última quinta-feira (16).
Beatriz foi vista pela última vez em 11 de janeiro de 2023, ao entrar em um carro pertencente ao Sindicato dos Trabalhadores Rurais de Barra da Estiva, veículo que, segundo a polícia, costumava ser usado exclusivamente pelo então vereador.
A vítima estava grávida de seis meses, e a investigação confirmou que ela e o político mantinham um relacionamento amoroso, sendo ele o provável pai do bebê.
Em 12 de julho de 2023, o Ministério Público da Bahia (MP-BA) denunciou Valdinei por feminicídio, apontando que a motivação do crime, ocorrido em 22 de março de 2023, foi o fato de o político não aceitar que a vítima divulgasse que ele era o pai da criança, visando preservar seu "grande prestígio na cidade".
Investigação
Valdinei foi condenado pelos crimes de homicídio qualificado, por motivo fútil, traição e feminicídio, com agravante de vítima gestante, e ocultação de cadáver. O corpo da jovem nunca foi encontrado.
A autoria e a materialidade do crime foram comprovadas por diversas evidências. Entre elas, estão vídeos que mostram a vítima entrando em um veículo idêntico ao do Sindicato, dirigido apenas pelo réu.
Manchas de sangue foram encontradas no carro do ex-vereador, e o relatório policial confirmou a conexão do celular de Beatriz ao Wi-Fi do Sindicato dos Trabalhadores Rurais dois dias após o desaparecimento, sendo o réu o presidente da entidade.
Valdinei foi preso em 21 de junho de 2023 com o cumprimento de um mandado de prisão preventiva por homicídio qualificado.
Além da condenação criminal, o político teve seu mandato cassado por unanimidade na Câmara de Vereadores de Barra da Estiva, e o juiz Genivaldo Alves fixou ainda uma indenização mínima, a título de danos morais, equivalente a cem salários-mínimos para a mãe da vítima.
'Feminicídio pode ser o primeiro ato de violência'
É de conhecimento público que a violência contra a mulher é um dos grandes problemas do Brasil. Dados do Anuário Brasileiro de Segurança Pública em 2024, publicado pelo Fórum Brasileiro de Segurança Pública, mostram que 1.467 mulheres foram mortas no país em razão do gênero, o maior número registrado desde a publicação da lei que tipifica o crime, em 2015.
Na Bahia, até o dia 21 de outubro, 80 feminicídios foram contabilizados pela Secretaria de Segurança Pública (SSP), apenas cinco a menos que o mesmo período em 2023.
Um dos casos recentes - e de grande repercussão - aconteceu em Teixeira de Freitas, no Extremo Sul do estado, quando as irmãs Elaine e Hiane Miranda de Araújo, de 41 e 35 anos, respectivamente, foram mortas a tiros pelo ex-marido da primeira, dentro de uma loja na cidade. O alvo do ataque, inclusive, possuía medida protetiva contra o suspeito, que não teve o nome divulgado.
Crimes Violentos Letais Intencionais
Entre janeiro e junho de 2025, a Polícia Civil registrou 378 homicídios dolosos - quando há intenção de matar -, sendo que 95% das vítimas eram homens e 5% mulheres. Foram contabilizados ainda 10 casos de latrocínio (roubo seguido de morte).
+ Mortos em chacinas policiais crescem 235% no primeiro semestre de 2025
No índice de 2024 do Anuário de Segurança Pública, que mede homicídios e lesões graves com intenção de matar, Salvador apresentou taxa de 52, enquanto a média nacional é 20,4. No total, foram registradas 1.335 mortes violentas na cidade nesse período, representando quase 30% do índice nacional em apenas seis meses.
Segundo o anuário, a capital baiana ultrapassou Macapá, capital do Macapá. A Bahia, por sua vez, é o segundo estado mais violento do país. Perde apenas para o Amapá.
Siga a gente no Insta, Facebook, Bluesky e X. Envie denúncia ou sugestão de pauta para (71) 99940 – 7440 (WhatsApp).